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Beyond myself, somewhere, I wait for my arrival.
Pior do que deparar-me com um rapaz a fazer body shaming é ser uma rapariga a fazê-lo, não apenas com as outras à sua volta mas, sobretudo, consigo própria.
Precisei de uma década completa de auto-consciência para que o meu maior pesadelo não fosse um par de pernas demasiado curtas e grossas, um ventre pouco firme ou, até, um peito avantajado que continua a teimar em se salientar por debaixo das blusas. Precisei de muitas lágrimas, sangue e vómito a sair do interior do meu corpo para ganhar consciência de quão desnecessários eram os meus esforços para me tentar integrar. Os socos no estômago, as estaladas nas coxas e os comprimidos serviram, apenas, para camuflar e continuar a dar vida a um monstro carregado de inseguranças e dúvidas. A resposta, estava, afinal de contas, mesmo em frente ao meu nariz: jamais conseguiria. Jamais seria como todas as outras que tanto invejava e tal era absolutamente aceitável, do mesmo modo que elas também não me conseguiriam adoptar o jeito de ser e isso estava igualmente bem. Frases feitas de auto-aceitação e elogios de todas as partes jamais me concretizaram, uma vez que era de mim, somente de mim, que cabia e cabe traçar o caminho para um futuro melhor.
Não é fácil, confesso. Há dias maus. Há dias péssimos, intoleráveis. Erguer-me das trevas na totalidade é, provavelmente, algo que jamais verei concretizado, mas já foi pior. Oh, se foi. Deixei de viver a vida de cabeça para baixo e ergui o queixo a todos os pedaços que me caracterizam, até os que ainda me custam a engolir. Todos os dias, sempre mais um bocadinho. Vou tentando sempre mais um bocadinho e, inacreditavelmente, resulta. O segredo é tentar.